REFLEXÃO NA PANDEMIA
Sábado, 30 de Maio de 2020
Neste momento em que muitos ainda estão perdidos emocionalmente frente a desconhecida pandemia, sugiro que façamos uma reflexão critica e pessoal com certos pontos. E também queremos dizer que a FEMERGS continua funcionando, apesar da crise financeira causada pelo fim da contribuição sindical, continuamos sempre a disposição dos associados com a estrutura de atendimento de TODOS DIRETORES. A secretária de Assuntos Jurídicos, Elaine Haab, bem como ASSESSORIA JURÍDICA, estão a disposição para o atendimento das entidades, e como ela todos os diretores que são capazes de atender as demandas dos sindicatos e associados nas áreas específicas. E estamos nos adequando frente a tudo isso que está ocorrendo no país e no mundo. Exemplo desta adequação é que na semana que passou fizemos a PRIMEIRA FORMAÇÃO ONLINE, sobre alterações da Previdência, foi um sucesso tamanho, que repetiremos na QUINTA-FEIRA, dia 04 de junho de 2020, às 19:00 HORAS, no GOOGLE MEET. A escolha do horário foi para atender solicitação dos sindicatos que os dirigentes não são liberados e dos servidores que querem assistir. Mas vamos as reflexões que são o ponto central deste texto.

Desde a regularização da atividade sindical neste país, para quem gosta e acompanha a história nosso sindicalismo é diferente de todo o resto do mundo, ele foi criado por Getúlio Vargas de forma mais ASSISTENCIALISTA do que de LUTA. Talvez isto seja o ponto que mais contribuiu para que nosso país esteja tão atrasado em direitos trabalhistas e garantias de salário justo dentre a América e o mundo. E talvez durante este período de pandemia nos seja permitido a parada necessária para ver se é este sindicato que queremos no futuro. Se estamos dispostos a ser entidade sindical de luta, e assim, continuarmos a perder direitos dia a dia frente a projetos de governo que pensam mais em como disse o ministro da economia Paulo Guedes em reunião ministerial disponível via judicial para todos nós onde ele afirma que O GOVERNO DEVE AJUDAR SOMENTE OS GRANDES, POIS ELES DÃO LUCRO.

Esta e a primeira reflexão, se mesmo com um sindicato assistencialista conquistamos por anos direitos históricos, como jornada reduzida, férias, décimo terceiro, salário mínimo, salário família, trinta e três por cento das férias, vale transporte, refeição e tantos outros, quanto mais teríamos conquistados se TODOS os sindicatos fossem de luta e não de assistência? Será que se nossas entidades fossem EXCLUSIVAMENTE de lutas teríamos perdido os direitos da CLT, o fim de nossa aposentadoria, o governo teria CONGELADO o orçamento por vinte anos? Eu tenho desde a infância, uma paixão por algo que aprendi na segunda série do fundamental, a COMUNIDADE, e isto acho que todos aprenderam, a comunidade é nossa estrutura desde o nascimento, a primeira foi a família, depois a igreja, depois a escola e finalmente a sociedade. Eu quando aprendi isto entendi que somente em comunidade se constrói aquilo que nos sustenta, e levei este conceito para todos os lugares que fui quando cresci, grupo de jovens, de mulheres, sindicato, federação, partido político, enfim, qualquer lugar que eu não ESTEJA SOZINHA, levo isso. O que eu escolho é individual, mas quando estou em uma COMUNIDADE, o bem coletivo PRECISA ser prioridade.

Pensando em coletividade vem a segunda reflexão, quantos de nós trabalhadores que perderam a aposentadoria como era, perdemos muitos dos atendimentos do SUS por causa do congelamento do orçamento público, quantos de nós não aceitou e ampliou o coro dos se vocês me permitirem vou apelidar aqui de “vampiros sociais”, ( que são pessoas que sempre acham um jeito de iludir enganar, e prejudicar os outros para conquistar benefício próprio.). O primeiro “vampiro social” citado aqui é o Paulo Guedes, que falou em bom e alto tom o objetivo de todo o vampiro “OBTER LUCRO”, então neste ponto é que precisamos fazer a reflexão, se eu represento uma entidade sindical que deve SER DE LUTA, mas prezo mais pelo que é lucro, pelo que é fama, por aquilo que ME dê bem estar, é um direito, posso até engrossar a fala de que sindicalista na maioria é “baderneiro”, isto é direito meu como individuo, mas não é como COLETIVO SINDICAL, então que eu escolha o lado que defendo, o que não podemos mais admitir é ver sindicalista acreditar que é bom perder direitos pois tem muito trabalhador vagabundo, que existam sindicalistas que passem o tempo todo falando mal de colegas sindicalistas, de federações, Centrais que não são as escolhidas por eles. Esta talvez seja a maior das reflexões, pois no momento em que todos sabem que a única saída é a unidade dos trabalhadores, como teremos esta unidade se existem lideranças sindicais correndo exclusivamente atrás de benefícios, de assistencialismo e que nos discursos acusam e falam mal de entidades sindicais, até mesmo de colegas trabalhadores. Como podemos ser unidade de trabalhadores em busca de conquistas, se passamos o tempo todo agindo hipocritamente, e principalmente. Como posso confiar em uma liderança sindical que faz isso? E cito exemplos aqui, e desafio as lideranças que vão ler este texto a pensar se não conhecem algum sindicalista que diz no discurso que não se deve criar Lei melhorando o salario de uma categoria só, mas que quando foi a lei que mudou o seu ficou quieto e não levou os trabalhadores para a câmara? Sindicalistas que ao invés de usar o mandato classista para efetivamente pautar a luta, aproveitaram para conquistas pessoais? Sindicalistas que usam seu mandato somente para atingir objetivo político, e depois que estão na câmara esquecem, ou pior são os que mais votam contra trabalhadores. Exatamente, são coisas que conhecemos no nosso cotidiano, mas daí pararmos de contribuir com o sindicato, engrossar as fileiras dos “vampiros sociais” falando mal dos sindicatos, não seria o momento de NOMINAR em nosso intimo quem age desta forma, e simplesmente começar a isolar estes indivíduos, pois eles talvez estejam precisando do nosso auxilio para ir luta no lado que lhes pertence de verdade? Ou com a nossa saída da entidade, com nosso afastamento na verdade somos cúmplices do crescimento deste tipo de situação?

E quanto a Pandemia, é o momento em que mais me preocupo, pois o mundo está enfrentando o que vai ficar historicamente conhecido como uma tragédia sanitária e econômica, e o que nós estamos fazendo? Principalmente no Brasil, estamos achando que somos escolhidos, especiais, a Europa fechou, o mundo mudou, mas aqui os trabalhadores principalmente continuam preso no que deveria ser discurso de patrão, não pode parar, é preciso trabalhar, sim, é preciso mas de forma segura e protegida, como isto será feito se este governo reduziu as exigências de IPI, quem está vendo as repartições públicas investindo na higienização e segurança do local de trabalho? Tá mas para isso é preciso dinheiro, e os municípios já estão quebrados, quem vai pagar, adivinhem? NÓS SERVIDORES, e sabem porquê? Por não termo tido a consciência de classe lá nas ultimas eleições e ter percebido que não é partido, mas sim partidos que a dezenas de anos estão na Câmara dos Deputados só para negociar, voto por emenda, voto por emprego, e JAMAIS, vão votar CPI DE DIVIDA, TAXAÇÃO DE GRANDES FORTUNAS. Nós podemos falar disto todos os dias não vai mudar nada. Se pegarmos todos os discursos da oposição nos últimos anos TODOS os deputados repetem a mesma coisa. Mas são a minoria, o discurso só está servindo para garantir sua base eleitoral e continuar lá. A nós trabalhador cabe iniciar o PROTAGONISMO DA MUDANÇA.

E aí vem a terceira e ultima reflexão de hoje. COMO? É POSSÍVEL, eu acredito que sim, sou uma eterna esperançosa do verbo esperançar, vai ser amanhã, certamente que não, mas talvez este momento de parada pandêmica seja o momento apropriado para que façamos uma parada construtora como entidade sindical, que possamos ler mais, pensar nas situações práticas, perceber por exemplo que não adianta esconder o sol com a peneira temos sim situações de corrupção no nosso dia a dia, é direcionamento de ação jurídica em troca de percentual, é venda de produtos em troca de percentual, é uso de mandato para beneficio próprio.

Afinal somos humanos somos todos imperfeitos não é ser sindicalista que vai construir meu caráter, não é ser policial que vai me tornar um bom exemplo, posso continuar sendo assassino, nesta semana vimos dois assassinos policiais fardados que assassinaram um adolescente e um pai de família. Precisamos refletir nesta parada, se os especialistas políticos, médicos e econômicos estão dizendo que enfrentaremos a PIOR CRISE ECONÔMICA DESDE 1929, precisamos saber o que houve com os trabalhadores naquela época, pois será o preço cobrado em dobro de nossa classe agora, sim pois naquela época também foram os trabalhadores que pagaram o preço da crise, os que já eram ricos e ficaram mais ricos foram nos pintados como INTELIGENTE QUE USOU A CRISE PARA CRESCER, ninguém que usa uma crise para crescer é inteligente, é sim um explorador mau caráter que se usa de artimanhas para garantir seu enriquecimento ou sua melhoria econômica frente ao sofrimento dos outros.

Esta reflexão é para mim a mais fácil e ao mesmo tempo a mais difícil, pois depende do que a gente tem de verdade e de desejo dentro da gente, é a velha história grita contra o capitalismo mas faz de tudo, tem três empregos, defende pagamento de pro labore para fazer parte de conselhos comunitários ( sim isso existe, tem gente que acha que conselho de saúde, assistência e outros deve ser pago, pois OCUPA tempo, mas então não vá criatura- está é minha opinião), daqui a pouco os de Igreja, comunitários também vão querer salario, e ai voltamos a nossa lição da segunda série, ESTAMOS PERDENDO O COMUNITÁRIO? Podem me perguntar, “então Clarice, você acha que sindicalista, esquerdista, socialista, deve ser pobre”. E eu vou responder,

-NÃO, deve ter como todo mundo o suficiente para ter uma vida digna, com um Estado que GARANTA GRATUITAMENTE SAÚDE E EDUCAÇÃO, que deve ter tudo o que é preciso para uma vida de qualidade, lazer, cultura, casa, comida, roupas. Mas que nisto tudo tenha a consciência de que ter o que precisa, não faz dele um capitalista, mas no momento que ele sentir necessidade de TER MAIS do que é necessário, sim é um capitalista escondido sob uma máscara, pois sem nós adquirir esta consciência nossa luta permanecerá por mais trezentos anos e nossas conquistas serão pequenas, e continuaremos vendo algumas lideranças crescerem individualmente, na politica na vida. E continuaremos nos perguntando onde eu errei que não consegui subir na vida. E aí eu te digo, talvez não seja errar a palavra adequada, talvez seja permitir que estas coisas continuem acontecendo. Pois sem uma reflexão do que realmente queremos não será possível mudar nada. É direito do individuo ter três empregos, é direito do individuo querer duzentos sapatos, a roupa mais cara, é direito do individuo querer ganhar mais do que o necessários ter a casa mais bonita, ter muito dinheiro na poupança, isto são escolhas INDIVIDUAIS, mas é também é direito da gente querer construir coletivamente, onde se busque o bem comum. E por isso o momento da pandemia é perfeito para a reflexão, pois se tudo o que falei não fosse verdade, nossos jornais não estariam cheios de notícias onde gestores estão fraudando licitação, onde religiosos estão vendendo remédios milagrosos, onde pessoas usam do momento de dor para obter algum tipo de lucro, onde se eleva preços, se frauda álcool gel. Então se eu acho que é momento de parada, sim é momento de não fazer novos projetos, não é momento de INVESTIR EM NADA QUE DÊ LUCRO, é momento de garantir o que temos, nos fortalecer como entidade de LUTA pois o que frente vai vem pela nos patrolar. Não pensem que os grandes vão ter perdas, eles, podem até não ter o LUCRO almejado, mas perdas jamais, diferente do trabalhador que em qualquer crise é o primeiro a perder. E aí de que adianta um sindicato assistencialista com dezenas de benefícios que os trabalhadores não poderão pagar? Então nossa responsabilidade como entidade neste momento, é sim dizer a todos, vamos parar, vamos refletir, só vamos gastar o que for NECESSIDADE BÁSICA, vamos organizar formações onde possamos falar como falava a grande ZILDA ARNS nos anos de fome deste país, que muitos esqueceram, mas milhares de vidas foram salvas com a multimistura. E pelo país todo se espalharam agentes de transformação, onde se defendia que em tempo de fartura se compra no supermercado, em tempo de crise se colhe na horta. O que virá nos pós pandemia em nas relações de trabalho, no poder de compra do trabalhador somente o futuro dirá, então vamos aproveitar está parada para nos preparar, para observar, com quem verdadeiramente poderemos contar quando tudo isso passar e for necessário reconstruir.
E para encerrar, o Brasil está fora do grupo mundialmente formado para reconstruir a economia no pós pandemia, um dos principais motivos é por colocar acima da vida humana a economia, e isto a gente pode adotar em nossas entidades agora, dispender toda nossa energia em valorizar a vida. Atitude esta que deveria ser prioridade para todos os entes federativos, industriais, populares, sindicais, somente manter despesas absolutamente necessárias, jurídico, contábil, luz, água, etc, se for necessário diminuir a estrutura buscando garantir vida, deveriam fazer, não é momento de investir, de ter lucro, o único investimento que deveríamos ter é na vida, pois a pandemia vai ser passageira, tudo o que for material podemos reconstruir, recomeçar mas nenhuma vida poderá ser recuperada. Vamos pensar, vamos analisar, vamos, pois, como disse acima, nosso país estará sozinho, e hoje neste mundo globalizado mais do que nunca ser sozinho, estar fora do coletivo pode trazer benefícios imediatos, mas não são benefícios permanentes e garantidos, é como arriscar na loteria. E enquanto alguns países estão pensando em aumentar o imposto sobre grandes fortunas, nós aqui vemos espertinhos querendo fazer fortuna neste período e as grandes fortunas sendo protegidas pelo governo.

Não esqueçam, usem os e-mails disponíveis na pagina http://www.femergs.com.br, peçam aos diretores auxilio, sugiram temas para discutirmos de forma online, o parar neste momento é a grande oportunidade, não de crescer no sentido material, mas crescer de verdade e finalmente na historia do Brasil assumirmos uma postura de sindicato de luta, que vem do anseio do povo e não na forma que foi criado de assistencialismo, para ser usado como cumpridor de pautas que são de responsabilidade do Estado. Devemos ser como um conselho, fiscalizador, cobrador do cumprimento destes direitos frente aos entes estatais.

E não esqueçam, JUNTOS SOMOS INFINITAMENTE MAIS FORTES.
Fonte: Clarice Inês Mainardi - Diretora de Formação- FEMERGS
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