APRENDIZADO!
Sexta - Feira, 31 de Julho de 2020
Hoje, o texto que escrevo, vai conter muitos exemplos meus, pois como já disse em várias ocasiões, aprendemos e podemos transmitir muito com nossa vivência, nosso exemplo e com a vivência e o exemplo dos que nos cercam. Lembrando novamente, o grande Paulo Freire, pena que muitos decoraram seus textos maravilhosos, mas não seguem seu exemplo ainda maior do que tudo o que escreveu.

Pedi a nossa secretária de imprensa, Lucinara Massolino, que colocasse hoje a foto que me inspirou para este texto. Sim, em atendimento EM CASA, somos brasileiros vamos falar e escrever assim, após mais de uma hora conversando com uma pessoa, senti necessidade de calor, é, pois está muito frio, lembrei de que toda pessoa que usa muito computador deve fazer de tempos em tempos uma pausa, para evitar LER, coisa que não fiz nos trinta anos de trabalho e pago o preço hoje com dores terríveis em meus braços. Então fui tomar sol, e aí, mexendo com meus braços pensei o que me levou a não conhecer meu direito como digitadora, que é o que sempre fui, comecei meu trabalho DATILOGRAFANDO o Jornal CELEIRO, em uma linda máquina elétrica. E aí comecei a pensar, não fazia, pois não entendia o que era DIREITO DO TRABALHADOR. Era sócia, mas não participava efetivamente da luta sindical. Era sócia, pois sempre apaixonada por política, conhecia a história das grandes lutas. E sempre fui muito questionadora e observadora, então minha infância foi meu primeiro aprendizado, única morena no meio de dezenas de primos loiros com olhos azuis e verdes, observava as conversas, os saberes que traziam meus antepassados, da dignidade do trabalho, que só ele produz riqueza, e eu naquela época já pensava como isso, se meus avós trabalhavam como loucos em suas propriedades e não ficavam ricos.

Aí adulta surgiu a FEMERGS em minha vida, caiu no colo, como se diz, e eu entrei de cabeça neste projeto, pois gosto por natureza de aprender. Nunca fiz longas formações, cursos caríssimos na federação, e acho que nestes mais de dez anos, aprendi muito, ainda tenho muito a aprender, mas as principais lições eu entendi. Como por exemplo a questão da importância de participar de todas as formações, por mais sacrificado que tenha sido ir a Porto Alegre, saindo de minha cidade as dez da noite, passar o dia em reunião e retornar no mesmo dia até aqui, totalizando muitas vezes 24 horas de ônibus. E tenho tanta certeza que aprendi, e que a FEMERGS ofertou a centenas de sindicalistas este aprendizado por anos, que vou citar outro exemplo. Uma das minhas primeiras atividades como coordenadora da região CELEIRO, foi um evento no CINE GLOBO em Três Passos, tema PREVIDÊNCIA E SAÚDE DO TRABALHADOR, palestrantes da época, JORGE SILVEIRA de Pelotas, Diretor de Saúde do Trabalhador na época E MÁRCIO NUNES FERREIRA, de Santa Maria, Diretor de Previdência. Neste evento me frustrei com o número de participantes, mas lembro bem que meu pai foi até lá, pois queria saber em que a filha havia se metido, já que como descendente de imigrantes alemães havia recebido de seus pais a máxima de que, “ao patrão só agradecimentos, pois ele te dá o pão de todo dia”. Triste, mas ainda existe isso, enfim, em dado momento, meu pai me abraçou e disse; “se eu soubesse disso a trinta anos atrás, jamais trabalharia com vernizes, tintas e solventes sem máscaras. Ainda bem que tive sorte, não me prejudicou tanto.”. Triste ilusão, meu pai faleceu a cinco anos por um câncer raro no ureter, que o levou em menos de seis meses, e adivinhem qual é uma das causas deste tipo de câncer?

E o sol me trouxe outra lembrança, quem diria que eu um dia estaria trabalhando em casa? E aí lembrei como conheci o pessoal do DIESE, uma reunião de direção em Porto Alegre, como coordenadora nunca faltei, posso contar nos dedos quando por motivos de doença não fui, apesar da dificuldade de locomoção. E a tarde, a FEMERGS na época contava com os recursos do imposto sindical, então tinha um convênio, uma parceria com o DIESE, e o palestrante do dia, falava sobre a nova concepção de trabalho, diante da Pós-Modernidade, em que o homem, o trabalhador não é mais necessário em muitos casos nem para controlar o maquinário que produzem, a era digital, e ele na época falava que chegaria o dia em que a carga horária seria inferior a 20 horas semanais, e que os benefícios governamentais como RENDA MINÍMA teriam que ser a única forma de distribuir a riqueza produzida pelo trabalho, sim, pois a maior parte do trabalho seriam das máquinas, dos computadores, e não é JUSTO e nem HUMANO, toda esta riqueza ficar somente com quem pode comprar a máquina. Pois é, o mundo está vivendo esta expectativa na pandemia do COVID 19, e nós no país, por questão de retrocesso histórico estamos na contra mão da história. O que lembra outra passagem vivida, o entendimento de que muitos dos imigrantes que aqui chegaram pensavam sim como Hitler, na superioridade do povo alemão, do povo europeu, tanto isto é verdade que quem é descendente e nunca ouviu o comparativo de que alemães e italianos trabalham mais, é só ver o belo jardim, em volta de suas casas. E aí, onde fica Mário Cortella nisto? Sim, Mário Cortella diz que ás vezes, muita limpeza, muita aparência de perfeição escondem carências extremas e vitais para que sejamos felizes.

Difícil entender minha reflexão de hoje, não, acredito que se cada um de nós olhar para nosso viver, para nossas falhas e nossas qualidades entenderemos finalmente que somos ETERNOS APRENDIZES, e nem sempre é necessário grandes eventos, cursos caríssimos, e pomposos para termos formação, é só necessário termos a humildade de saber que em cada encontro, podemos aprender, basta participar. Nem um livro pode te dar conhecimento e aprendizado se você não for humilde suficiente para dialogar, refletir e trocar experiências com outro, pois aí você será como centenas de educadores deste país que decoram Paulo Freire para citar em momentos específicos de interesse próprio e não para melhorar o mundo, a educação como era desejo dele.

E para terminar a reflexão de hoje, todos tem o direito de escolha, até o pior dos ditadores ou capitalistas, o que não é direito de ninguém, estar em lugar que não condiz com sua verdadeira filosofia de vida. Então eu sou eternamente grata por toda APRENDIZAGEM que a Federação dos Municipários me proporcionou, mas antes disso sou eternamente grata a meus pais e familiares que me deixaram ser esta pessoa questionadora, observadora e ciente de que é necessário acreditar que somos eternos aprendizes, só assim crescemos. E que cada um deve estar no lugar que condiz com o que acredita, mas quando escolhe o lugar, deve estar conectado verdadeiramente com os objetivos e aproveitar todos os momentos para aprender, então, se de alguma forma também foi dado a você a oportunidade de estar na FEMERGS, participe, verdadeiramente participe quando receber convite para LIVES, leia tudo o que já foi publicado nestes anos na página, ouça os vídeos explicativos, procure e transmita conhecimento, pois só este conhecimento e esta aprendizagem é que serão o diferencial na nossa vida.

E principalmente DISTRIBUIA o que aprendeu, pois saberes retidos, são saberes manipuláveis!
Fonte: Clarice Inês Mainardi - Diretora de Formação- FEMERGS
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