DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA - 20 DE NOVEMBRO
Sexta - Feira, 20 de Novembro de 2020
Hoje dia da consciência negra, tão exaltado por alguns, tão criticado por outros. E como estamos nós, lideranças sindicais? Sim, se faz necessária esta reflexão pois sindicato surgiu e sempre esteve presente em todas as lutas das MINORIAS OPRIMIDAS, sejam elas minorias sexuais, raciais ou trabalhistas, de gênero, etc.
E atentem MINORIA aqui não significa de menor número. Mas sim quem de alguma forma é explorado ou menosprezado por quem de alguma forma tem poder, e por isso está no topo. Por isso sindicatos normalmente tem departamentos racial, de gênero, de necessidades especiais, de mulheres e outros tantos.

Nossa reflexão deve sim começar com a seguinte pergunta, como podemos ser sempre em grande número, mas na hora de direitos e benefícios somos subjugados por uma minoria autoritária, preconceituosa e exploradora?

Podemos fazer esta reflexão com uma auto análise bem simples, temos determinação para a luta, se assim não fosse, já teríamos desistido dela, mas temos a noção de que só determinação não nos serve, precisamos ampliar este modo de ser, em determinação com conhecimento e entendimento de que as minorias precisam de defesa, e precisam acima de tudo que a nossa determinação venha daquele determinismo sustentado pela lei que diz que tudo o que existe no universo é governado per leis causais, ou seja até as ações humanas são causalmente determinadas, sim pois todo evento é precedido por uma causa anterior. O sentimento de liberdade, que podemos agir de forma diferente é um tanto ilusório, o que explica que algumas pessoas passam por eventos parecidos e reagem de formas diferentes, algo houve de diferente lá no que causou a reação. E isto se aplica EM REGRA GERAL, sempre havendo exceções a todos nós.

A causa para nossas atitudes instantâneas, é constância em nosso presente, já aquelas enraizadas em nosso eu, são de séculos atrás, e que continuam de alguma forma presente, pois nunca foram erguidas verdadeiramente a tona, discutidas, exploradas resgatadas de forma curativa para aí sim, serem colocadas no armário da memória. Nosso país não tem, sob a falsa alegação, de sermos uma nação cristã e extremamente religiosa, a prática de sentir nossas dores. Não fizemos isso com o extermínio dos indígenas, não buscamos ler os relatórios disponíveis sobre estes assuntos, pois são TRISTES, é melhor esquecer, fizemos isso com os negros, libertos e jogados na miséria, fizemos isso com os Lanceiros Negros mortos por traição, e eles não tem nem uma rua aqui na minha região com seu nome, mas o traidor David Canabarro, este tem. Nós fizemos isso com as vitimas da tortura durante o período militar. E o resultado desta falsa ideologia do PERDÃO e ESQUECIMENTO, é justamente o que vimos no Carrefour ontem, um homem sendo espancado até a morte, e uma representante das famílias do bem e cristas, filmando como se fazem as filmagens do filme ROCK O LUTADOR, tentando pegar o melhor ângulo.

É como cada vez que um ser humano passa por um morador de rua e nem olha, pois aquela dor, aquela vida já não importa. E não adianta recitarmos até cansar, “um dia levaram os negros e não me importei, .......JA nos levaram e nós TAMBÉM NÃO NOS IMPORTAMOS.

Sim nos levaram a aceitar uma sociedade hipócrita que faz do Black Friday, como o momento em que o trabalhador se esbalda em compras, já que seus baixos salários não permitem o consumo de bens necessários para uma vida digna nos outros dias. Normalmente os bens que recebem desconto, já estão saindo de linha, serão substituídos para o êxtase de quem pode comprar o ano todo. Quando na verdade, as três versões do surgimento do nome, são extremamente RACISTAS, alguns dizem que Black Friday surgiu pois era na sexta que os vendedores de escravo faziam grandes promoções, principalmente vendendo escravos com “defeitos”. E notem, estamos falando de seres humanos. Segunda versão diz que a polícia dos EUA criou esta expressão por causa do burburinho de pessoas e aumento dos problemas logo depois das festas de ação de graças, pessoas que estavam atrás das sobras de quem fez a festa. E finalmente a terceira, tem tudo a ver com o que enfrentamos hoje, quase CEM ANOS depois da primeira Black Friday, foi a expressão usada para definir os trabalhadores que INVENTAVAM doenças para emendar a sexta-feira ao sábado e domingo de folga.

Ou seja, TODAS AS EXPRESSÕES, denegrindo o negro, são sim expressões racistas, como é pé sujo, rapa pé, a coisa tá preta, e tantas outras, ai pergunto, de onde vem a expressão empregada doméstica? Vem da necessidade que os brancos tinham de DOMESTICAR quem cuidasse da casa. E com certeza são expressões que todos usamos, muitas vezes sem maldade, mas, como somos seres humanos e sabemos que entre os PMs, tem PMs bom, mas tem PMs que só entrou lá para poder exercer o direito de DAR PORRADA de ser truculento, como sabemos que tem religioso bom, mas tem os que entraram somente para praticarem seus atos homossexuais sob proteção, como sabemos que tem sindicalista que é bom, mas tem os que deixam muito a desejar, em todos os segmentos isto ocorre, então se nós que dizemos ser contra o racismo, preconceito, se nós nos policiar e não repetir mais expressões assim, não justificar por motivo nenhum o que ocorreu em Porto Alegre, será que não seria mais fácil detectar na sociedade quem continua achando que negros, índios, trabalhadores, mulheres são seres inferiores e que só servem para garantir o bem viver de uma minoria, daqueles que simplesmente falam sem pensar, sob a alegação, é brincadeira, é só um modo de falar?

Já se passaram décadas demais para que o ser humano amadureça quanto esta questão. Já existe tecnologia e ciência suficiente para não sermos ignorantes, precisamos sim falar, senão continuará acontecendo mortes de vidas negras que importam sim. Que são iguais a morte de qualquer um que sofra espancamento, desnecessárias, cruéis e inúteis, como estão sendo as mortes das mulheres, dos jovens. E continuaram existindo pessoas que acham ser a ditadura militar uma forma de educar, quando na verdade é somente uma forma de INSTITUCIONALIZAR o que fizeram com o JOAO ALBERTO SILVEIRA FREITAS, alegando ser uma forma de educar o cidadão. A liberdade nos permite escolher de que lado estamos, mas não existe como estar em dois lados ao mesmo tempo, não tem como esquecer o passado e fingir que nada aconteceu, nos temos sim divida com os negros, índios e trabalhadores, mulheres, homossexuais, torturados, desaparecidos, neste país.

E enquanto não fizermos esta reflexão, vamos continuar indo ao Carrefour como se Joao Alberto não tivesse existido, como se na mesma empresa não houvesse morrido um funcionário durante o trabalho e simplesmente jogaram um pano por cima do cadáver para o atendimento continuar normalmente até a chegada da perícia. Este fato ocorreu na mesma empresa em SP, e nem vou falar do cachorro morto a pontapés pela segurança.

Como vamos falar em mudar o mundo para melhor se nos encaixamos no capitalismo que faz destes segmentos somente instrumento para render lucro.
Fonte: Clarice Inês Mainardi - Diretora de Formação- FEMERGS
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