A COVID-19 tem gerado muitos debates. De um especialista a uma dona de casa, o assunto é o mais comentado. E cada um, a sua escolha, faz a defesa que tem mais proximidade com seu histórico de vida.
Mas a COVID-19 traz a tona outro grande debate, este mais restrito, mas com o mesmo impacto. O tipo de desenvolvimento socioeconômico que o mundo quer para si. Como cada país e a sociedade quer para si. É um debate que parece técnico, mas que nestes momentos de crise é fundamental. No centro deste debate está o povo, o ser humano.
Mas ao longo da história muitos sistemas de desenvolvimento foram testados, e, atualmente, temos três modelos mais utilizados: capitalismo, socialismo e economias mistas.
Atualmente, prevalece a economia mista, que combina dois ou mais modelos econômicos distintos. Registra-se que modelos puros nunca existiram. O conceito clássico de “economia mista” é, geralmente, usado como sinônimo de modelos mistos entre economia de mercado e economia orientada, planejada, ou ainda economia planificada.
Óbvio que esta simplificação não detalha esta nomenclatura ao longo da história, pois isso é importante ater-se, neste momento, no que está mais próximo da nossa geração. A partir dos anos 1990, dois padrões diferentes de modelos mistos se consolidaram:
Terceira Via: capitaneada por figuras como Bill Clinton, enquanto presidente dos EUA, e Hilary Clinton, enquanto era candidata a presidência dos EUA. E por Tony Blair, enquanto primeiro- ministro britânico, considerado o maior entusiasta. Em linhas garais, a Terceira Via se propôs a criar um modelo misto entre o capitalismo orientado do “welfare state” (estado de bem-estar social) e uma reinterpretação do liberalismo clássico, voltado apenas para o plano econômico. O que é mais conhecido como neoliberalismo.
Modelo chinês: tendo a frente a China Continental, que se considera um “socialismo com características chinesas” e o ocidente, que no início nomeou “socialismo de mercado”, que junta as chamadas regulações de mercado (reformas) com atuação mais forte do Estado.
Mas fica só no papel…
Capitalismo?
Mas no cotidiano, estes sistemas econômicos são pra inglês ver, como na expressão. Vejamos o caso do Capitalismo, tendo a frente os EUA. Promove a globalização. Estimula o livre trânsito de capitais, empresas e produtos. Mas quando o calo aperta, o Estado americano sai a socorrer o setor privado. Em 2008, na crise do Lehman Brothers, os EUA entraram de sola e compraram as maiores empresas privadas americanas. O mesmo está fazendo com este pacote de dois trilhões de dólares para combater o impacto do COVID-19. Botando dinheiro público para cobrir prejuízos privados. Que, em tese, deveriam ser cobertos pelos proprietários de cada empresa, pois deveriam ter suporte para prever crises. Sem a ajuda do Estado. E usando sua meritocracia, taokey? E mais um último exemplo, que se trata do livre comércio. Enquanto foi interessante, a Organização Mundial do Comércio (OMC) era uma entidade séria para conter excessos no sistema de trocas, mas quando os EUA não possuíam mais competitividade em setores importantes, os americanos abandonaram a OMC e começaram uma politica de taxações próprias. Europa, China e até mesmo o Brasil que o digam. E a Huawei, idem.
Comunismo ?
No caso do sistema “socialista com características chinesas” a maioria não conhece, inclusive, no Brasil, mas acha que sabe como funciona. Pensam que na China o Estado provem tudo. Tudo mesmo, como na antiga União Soviética ou hoje na Coreia do Norte. Vejamos o caso da educação. Na melhor imagem sobre o comunismo, mesmo entre os liberais, um dos pontos altos é a educação. Qualquer neoliberal acha que este é um ponto forte no comunismo, para o bem ou para o… Por essa lógica, o Comunismo banca uma educação integral. Ledo engano, no caso da China. O ensino chinês é obrigatório e gratuito a todos até os 15 anos de idade. Mas o ensino superior é totalmente pago, que varia muito de preço e de renome da instituição.
Em artigo, Luiz Gonzaga Belluzzo, professor titular do Instituto de Economia da Unicamp, traz a seguinte equação sobre o modelo chinês:
“A China apostou no controle de capitais, para administrar uma taxa de câmbio real competitiva, sustentou a dominância dos bancos estatais na oferta de crédito, manteve os juros baixos para `carregar` as reservas trilhionárias e empreender um gigantesco programa de investimento em infraestrutura, incentivando a absorção de tecnologia, com excepcionais ganhos de escala e de escopo.
O Estado planeja, financia em condições adequadas, produz insumos com preços baixíssimos e exerce invejável poder de compra. Na coordenação entre o Estado e o setor privado, está incluída a `destruição criativa` da capacidade excedente e obsoleta mediante reorganizações e consolidações empresariais, com o propósito de incrementar a “produtividade” do capital.
A iniciativa privada dá vazão a uma voraz sede de acumulação de capital através de investimentos em ativos tecnológicos, produtivos e comerciais. Em discurso de abertura ao 19º Congresso do Partido Comunista da China, o presidente XI Jinping anunciou as políticas de `ampliação do papel do mercado` e de reforço às empresas estatais. Um oximoro para inteligências binárias. ” 1
Dá para ver que o sistema chinês é pra lá de híbrido e não abre mão do que cada sistema tem de melhor. Taokey?
O povo é o mais importante!
Modelos à parte, o que conta agora é que o povo está no centro deste debate. Sua existência ou morte. E com a COVID-19 isso fica bem claro. Enquanto o Brasil, que não tem modelo próprio e fica na corda bamba entre outros modelos, segue, atualmente, uma linha pró EUA. O governo Bolsonaro prega a maior importância da economia. Em tradução aberta, seria “as pessoas podem morrer, mas a economia não pode parar”.
A COVID-19 não escolhe sistema econômico, mas os coloca à prova. A começar pelo sistema de saúde. No modelo americano, quase totalmente privado, o que fazer? E esta pergunta não é só para o pobre americano. Sem respiradores, como tratar milhares de pessoas, ao mesmo tempo? E quem não pode pagar como fica? Pois os preços das internações aumentam pela lei da oferta e demanda (capitalista). Quantos podem pagar? Haverá tempo e leito para todos os ricos? E para os pobres? O Estado americano vai bancar a conta? Pela “lei Trump” a economia não pode parar… Discurso que conhecemos bem aqui no Brasil. Mesmo que os especialistas em saúde digam e repitam que não há sistema de saúde que dê conta se a maioria da população não ficar em casa. O mesmo vale para a Itália. País rico, mas que se viu sem leitos de UTI para todos. Sem aparelhos de respiração… Sem mascaras… e mesmo com dinheiro, os italianos descobriram, a fórceps, que nestes casos não adianta nada. E fica a pergunta, entre tantas, um país pode abrir mão de suas indústrias?
Os países que estão “apanhando” com a COVID-19 possuem modelos que expõe os pobres e e a todos ao caos. E colocam sua economia em risco, sim. Não há modelo bom que não seja para todos.
Os países que estão enfrentando com mais competência e eficiência, para usar umas palavras capitalistas, são os que por aqui são chamados de forma pejorativa de “comunistas”. Entre eles, a própria China.
Em poucos dias, a China parou. Com essa parada, o governo assumiu uma coordenação nacional de enfrentamento. Convocou o povo para a luta. Supriu a todos com os itens básicos para barrar a contaminação (máscaras, etc..). Usou um sistema sofisticado, feito em tempo recorde, de controle de casos. Manteve o abastecimento. Cuidou de todos. E até daqueles que morreram. E até assumiu os erros, como no caso do médico que foi um dos primeiros a descobrir o surto.
Não recebeu uma mísera ajuda do mundo. Milhares de voos de países ricos chegaram vazios à China, apenas para “recolher” seus cidadãos. Tornou-se persona non grata. Fruto de racismo e agressões apenas por ser chinês. Aqui no Brasil também há muitos casos nesta linha.
Mas que ao conseguir vencer a primeira etapa contra a COVID-19, que é parar os casos, a China iniciou uma ação global de ajuda humanitária (doação) de bilhões de dólares em suprimentos, profissionais e insumos. Hoje em mais de 82 países. Colocando o povo no centro como prioridade. A história e os modelos continuam…
BrasilChinaPlay, 26 de março de 2020
1 Belluzzo: Estado, mercado e socialismo na China, segundo Elias Jabbour. Portal Vermelho. Acesso em 25 de março de 2020.
http://brasilchinaplay.com/2020/03/26/covid-19-capitalismo-x-comunismo-o-povo-no-centro-do-debate/






